Estado é destaque no ranking do Movimento Todos Pela Educação, mas ainda enfrenta desafios na área
O
Ceará é líder no Brasil na inclusão escolar de crianças entre quatro e
cinco anos de idade. O Estado tem 92,2% dessa faixa etária na
pré-escola, de acordo com os dados do Movimento Todos pela Educação
divulgados ontem.
A média nacional é menor que a apresentada pelo
Estado, ficando em 80,1%. Apenas o Ceará e o Rio Grande do Norte têm
taxas de atendimento na pré-escola superiores a 90%. A questão agora é
garantir qualidade para esta educação.
Pelo menos é o que avalia o
Centro de Defesa da Criança e do Adolescente do Ceará (Cedeca), o
Conselho Estadual de Educação e os especialistas em educação.
Atualmente, eles discutem a qualidade desse ensino para que os
resultados não sejam apenas quantitativos, mas que venham agregados a
bons professores e estrutura adequada.
Um questionamento,
levantado pelo assessor comunitário do Cedeca, Laudenir Gomes, é se o
Município tem recorrido à construção das novas escolas e à ampliação das
já existentes para atender ao número crescente de alunos. "Ainda vemos
muitas escolas superlotadas. A São João Batista, no Jardim das
Oliveiras, por exemplo, atende a faixa infantil de quatro e cinco anos
até o 5° ano, mas passa por problemas de estrutura física", alerta.
Para
ele, a qualidade ainda é um ponto a ser discutido e o acesso precisa
significar boas condições. "Se não for com oferta de qualidade, não
adianta, tendo em vista que não vai beneficiar as crianças. Temos que
ver se de fato os números acompanham a qualidade", ressalta.
Ainda
há fatores preocupantes na educação que dependem de recursos. É o que
defende o presidente do Conselho Estadual de Educação, Edgar Linhares.
Para ele, é preciso melhor formação dos professores e melhor remuneração
para os profissionais da área de modo geral.
"Enquanto não
atingirmos os 10% do PIB nacional destinados à educação, não temos o
direito de melhoria qualitativa correspondente aos nossos sonhos de
educadores", ressalta.
Um aspecto interessante da pesquisa é que
oito dos nove Estados nordestinos estão entre os dez primeiros colocados
no ranking nacional de inclusão. Ficou de fora apenas Alagoas, com
78,1%. Entre os dez melhores, estão São Paulo e Rio de Janeiro, da
Região Sudeste.
Ao todo, 14 unidades da Federação têm índices de atendimento inferiores à média nacional.
Programa
A
melhoria está relacionada ao eixo de Educação Infantil do Programa
Alfabetização na Idade Certa (Paic), criado pelo Governo do Estado do
Ceará, segundo o orientador da Célula de Estudo e Pesquisa da Secretaria
de Estado de Educação (Seduc), Daniel Campos Lavor.
Ele explica
que o programa tem monitorado o atendimento às crianças dessa faixa
etária e também mobilizado todos os municípios para proporcionar
educação infantil verdadeiramente qualificada.
"Este é um
resultado estratégico para se conseguir uma alfabetização mais eficaz,
pois essas crianças já chegam no ensino fundamental com uma base
construída", diz o orientador.
A Secretaria Municipal de Educação
de Fortaleza (SME), garante atender a 100% das crianças que procuram
unidades de ensino voltadas para o atendimento da pré-escola.
Ao
todo, Fortaleza possui 195 colégios municipais que englobam essa faixa
etária, nas quais estão matriculadas cerca de 20 mil estudantes entre
quatro e cinco anos de idade.
Mas o desafio da inclusão continua,
pois mais de 1,1 milhão de crianças nesta idade ainda não frequentam a
escola, de acordo com levantamento do Movimento Todos pela Educação.
A
meta do Governo Federal é que, até 2016, esses alunos sejam incluídos
na rede de ensino. É importante acrescentar que uma emenda
constitucional aprovada em 2009 estabelece a pré-escola como etapa
obrigatória no País. Até então, a matrícula era compulsória apenas no
ensino fundamental (dos seis aos 14 anos).
Os dados do Movimento
Todos pela Educação são de 2010. Os indicativos apontam que as crianças
de quatro e cinco anos que estavam fora da escola naquele ano
provavelmente já estão matriculadas no ensino fundamental e muitas devem
ter chegado a essa etapa importante sem cumprir a pré-escola.
Mudança cultural influencia resultado
Um
dos fatores que podem ter influenciado o destaque do Ceará é a
relevante mudança cultural, após um forte discurso de inclusão. É nisso
que acredita o mestre em Educação Marco Aurélio de Patrício Ribeiro.
"Pais que antes não consideravam importante mandar os filhos para a
pré-escola, vista como um espaço para brincar, agora estão atentos a
importância desse primeiro passo", explica.
Para ele, a gestão
pública fez um investimento real no setor. "As políticas públicas
surtiram efeito e houve uma mudança cultural a partir do momento que os
pais passaram a valorizar a escola", analisa.
Assistência
Outro
ponto que pode ter influenciado a destacar estados do Nordeste no
ranking são os benefícios do Programa Bolsa Família. "Quanto mais
miserável a região, mais as pessoas colocam as crianças na escola para
receber os benefícios do programa".
Diante disso, é preciso
questionar quais políticas estão sendo aplicadas para a permanência
desse aluno no ensino médio. "O que é feito para evitar a evasão já que
apenas 52% chegam no ensino médio?", questiona Marco Aurélio Ribeiro.
Do Diário do Nordeste
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