Europeus se unem ao Brasil no protesto contra o uso de animais, inclusive jumentos, para fins de vivissecção
Fortaleza
Um movimento internacional, envolvendo seis países europeus e,
especialmente, 50 cidades do Brasil pretende por um basta na vivissecção
(experiências com animais em laboratórios) e contra a venda de 300 mil
jumentos por ano que Brasil quer vender para China.
O encontro
está marcado para o próximo dia 28. Em Fortaleza, o ato acontecerá na
Praça dos Estressados, localizado na Avenida Beira-Mar, a partir das 15
horas, tendo à frente lideranças e militantes de defesa e proteção dos
animais.
O evento na Capital está sendo organizado pela
presidente da União Internacional Protetora dos Animais (Uipa/CE), Geuza
Leitão. Na sua opinião, a cidade tem o compromisso de fazer uma
mobilização exemplar, haja vista toda a relação emocional com o jumento,
que é tema de poesias, crônicas e romances, permeando obras do padre
Antônio Vieira, o poeta Patativa do Assaré, José Clementino e o cantor
Luis Gonzaga.
"Nosso objetivo é reunir o maior número de pessoas
contra essa prática terrível que é a vivissecção e, sobretudo, contra a
exportação de jumentos brasileiros para a China que esbarra, inclusive,
em questões legais", afirma Geuza.
Ela informou que o movimento
já conta um abaixoassinado com mais de 20 mil assinaturas e o protesto
acontecerá simultaneamente em cidades de países da França, Inglaterra,
Escócia, Alemanha, Irlanda e Portugal.
Na ocasião, os
manifestantes levarão faixas, cartazes, banners, caixa de som para
protestarem com palavras de ordem, distribuição de material educativo,
guardas municipais e duas tendas darão apoio, distribuição de
jornalzinho mensal da Uipa, alusão aos defensores dos jumentos já
falecidos, bem como exposição de material da Uipa.
"É um
movimento que mexe com os nossos laços regionais e, sobretudo, com a
sensibilidade com relação aos maus tratos. Nosso foco principal é anular
esse acordo que visa a venda de 300 mil jumentos por ano para China,
destinados ao consumo da carne e para vivisseção (experiências de
animais vivos em laboratórios) para indústria de cosméticos", afirmou
Geuza.
Apesar da afirmação de que exportação está baseada em um
acordo bilateral assinado pelo governo brasileiro e chinês, ainda não há
nenhuma comprovação nesse sentido, conforme afirma o presidente da
Comissão de Agricultura e Pecuária na Câmara Federal, deputado Raimundo
Gomes de Matos (PSDB/CE).
Audiência
"Não
podemos acreditar que tudo não passe de uma invenção. No entanto, vamos
buscar provas, inclusive documentações que possam viabilizar uma
audiência pública e questionar o Executivo sobre a iniciativa", afirmou
Gomes de Matos.
Ele disse que a movimentação no Legislativo em
Brasília é de expectativa, porque até o momento não houve nenhuma
manifestação do Governo Federal. No entanto, ressaltou que deverá
questionar os Ministérios da Indústria e Comércio, Relações Exteriores e
da Agricultura sobre em que nível se encontra esse suposto acordo.
"Nossa
posição é totalmente contrária e estarei presente à manifestação do
próximo sábado. No entanto, queremos que haja um documento que nos leve a
articular a audiência e assim impedir, baseado em normas
constitucionais, o envio de jumentos para o exterior, quer para fins de
alimentos, ou para uso na indústria e com objetivos científicos",
salientou o parlamentar.
Raimundo Gomes disse que é conhecedor
sobre o desuso dos jumentos no Nordeste, com o advento do progresso. O
animal é hoje considerado um "inimigo", conforme frisou, para alguns
proprietários de terra, uma vez que chegam a destruir cercas e até
disseminar alguns tipos de doenças entre os rebanhos.
No entanto,
lembrou que há na Câmara Federal parlamentares que já se posicionaram
contrários a esse acordo, levando em conta o bom senso e a coerência de
se evitar os maus tratos. Dentre esses, destaca o deputado federal
Ricardo Tripoli (PSDB/SP), o primeiro a se pronunciar contrário ao
acordo bilateral com a China, e Chico Lopes (PCdoB/CE).
"Estamos
lutando para que o Ministério da Agricultura, do Meio Ambiente, o
Congresso Nacional, ou quem quer que tenha competência no Brasil, para
vetar essa carnificina. Os jumentos sempre foram verdadeiros
companheiros do povo nordestino", afirma Geuza.
A presidente da
Uipa/CE, lamenta que, hoje, o jumento é considerado imprestável e sem
valor econômico. Desse modo, a saída seria se livrar a qualquer custo,
inclusive quando se encontra um País disposto a pagar pelo produto que é
tido como um problema, principalmente, nas estradas nordestinas.
"Considero
que a melhor alternativa para os outros Estados nordestinos é fazer
como o Ceará, que destina os animais apreendidos para a Fazenda Paula
Rodrigues, em Santa Quitéria, no Sertão Central", avalia ela.
"Trata-se
de uma imensa propriedade, mas o Estado vem sendo responsável em suprir
com água e alimentos os bichos apreendidos. Isso também poderia
acontecer em outras localidades nordestinas e não promover uma matança,
que poderá levar a extinção da espécie", denuncia a presidente da
Uipa/CE.
Segundo Geuza, o Brasil não pode vender o que não lhe
pertence, pois o jumento faz parte da fauna e de acordo com a lei, todos
os animais existentes no País são tutelados do Estado. Portanto o poder
público é tutor dos animais e, como tal, tem o dever de protegê-los e
não se locupletar com a venda do nosso jumento para outro País,
especialmente com a abominável destinação, ou seja, morte e cobaias em
mesas de laboratórios.
A própria Constituição da República
Brasileira determina ser dever do poder público proteger a fauna e a
flora, vedadas na forma da lei práticas que provoquem a extinção da
espécie ou submetam animais à crueldade.
FIQUE POR DENTRO
Bichos sem dono são destinados para fazenda
Por
mês, a média mensal de animais apreendidos em rodovias estaduais é de
1.152. Segundo o gerente das Unidades Regionais do Departamento Estadual
de Trânsito (Detran/CE), João Carlos Macedo Costa, estavam recolhidos
na Fazenda Dr. Paula Rodrigues até o dia 31 do mês passado, 8.824 que
foram apreendidos e não procurados pelos seus proprietários.
O
Custo mensal da fazenda é de R$ 366.160,00, somando as despesas com
apreensão, alimentação, serviços veterinários e manutenção.
Boa
parte dos bichos recolhidos na fazenda são jumentos, e que também estão
no topo entre os que causam acidentes nas estradas. Muitos chegam
doentes e mesmo assistidos por veterinários contratados pelo governo
morrem em pouco tempo.
De acordo com a Lei nº 13.045, os animais
podem ser doados a hospitais públicos, escolas públicas, entidades
filantrópicas, escolas agrícolas públicas, associações comunitárias,
órgãos públicos que manifestarem interesse. Mesmo assim, a experiência
cearense é vista como um modelo para outros Estados, que não contam
sequer com um destino mais sensível com a sobrevida dos jumentos e
outros bichos .
Mais informações:
União Internacional Protetora dos Animais (Uipa-CE)
Secção Fortaleza
Telefone: (85) 3261.3330
http://www.uipace.org
Do Diário do Nordeste
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